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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013





Tragédia de Santa Maria, também sou culpado, me prendam!
Ou
Onde vamos parar assim?

Independente da tragédia e foi uma tragédia que ocorreu em Santa Maria; independente da dor que todos estamos sentindo, especialmente os familiares das vítimas; independente da enorme ferida que certamente nunca irá cicatrizar, devemos, ou melhor, temos a obrigação de não perder o bom senso, sob pena de piorar ainda mais as coisas – este sentimento de dor, medo e inutilidade e de adicionar caos a esta desgraça.
Engana-se quem pensa que as prisões pós-tragédia vão amenizar tudo isso, ou que vão trazer alento às centenas de corações destroçados. Procurar (e achar) culpados neste momento só contribuirá para criar uma falsa impressão de agilidade. Penso que procurar culpados agora será um bom exercício de subjetividades e até poderá ajudar para manter todo mundo ocupado com coisas que até podem resultar em ações palpáveis (como as prisões), já que pensar na morte – companheira do mesmo campo subjetivo resulta nela mesmo e não nos tira da realidade.
Mas é justo procurar culpados? É justo afirmar que alguém, em sã consciência, colocaria fim a jornada de mais de 230 jovens? Ok, todos concordamos que quando se faz a soma erros e incompetências com as irresponsabilidades, o resultado será nefasto e a palavra fatalidade deve perder o sentido. Mas onde e quais foram estes erros e irresponsabilidades? Tendo a acreditar que usar de superficialidades como: uma porta que não estava no lugar, um extintor que não funcionou, o comportamento turrão de alguns seguranças, um alvará vencido e um sputnik usado indevidamente, só nos afastará das questões que realmente importam.
Aonde de fato chegaremos com isso? Será que prender alguém com base nestes eventos mudará toda essa triste história? Os jovens que se foram naquela noite voltarão para suas famílias?
Desculpem, mas não acho certo apontar culpados ou prender alguém, porque no fundo somos todos culpados, assim, também devemos ir para cadeia. Os fatos que levaram aquelas mortes estão sendo distorcidos e encobertos com extintores e portas. Se prender alguém fará todo mundo se sentir melhor, sugiro que comecem por mim. Mereço ser preso porque tenho uma filha de 21 anos e nunca disse a ela para verificar as saídas de emergência nos ambientes que ela frequenta (todos os ambientes). Mas se minha prisão não for suficiente, vamos também prender os padres, pastores e assemelhados, porque foram incompetentes em suas orientações espirituais, não souberam fazer esta meninada a acreditar que estar em casa com a família é melhor que ir para festas com amigos, aliás, vamos prender também aqueles amigos que disseram não vai na Kizz sem ser convincentes. Vamos prender também aquela polícia, que só sabe prender sem educar. Devemos prender também os bombeiros que não fizeram o trabalho preventivo. Temos que prender também os donos das emissoras de TV que há décadas vem, através de suas novelas e reality shows, deformando gerações, fazendo-nos crer que o bonito é ser fútil e que o bacana é ser esperto (enganar, mentir e ter um jeitinho para tudo). Vamos prender todos os governantes porque eles só pensam nos votos e não implantam políticas públicas baseadas na formação intelectual, na solidariedade e no repeito ao próximo. Enfim, ou nos prendemos as coisas que realmente importam, ou sejamos justos e prendemos todo mundo.
 Sou absolutamente a favor da elaboração de um novo marco legislatório para o funcionamento de casas noturnas, porém, sou contra colocarmos meia dúzia de gente na cadeia para desculpar nossos próprios erros e de ocultar a única verdade dessa história: vivemos em uma sociedade em decomposição, sofremos com o “fim dos valores humanos” e estamos todos doentes.
Nada que fizermos agora irá trazer àquela gurizada a vida, mas podemos mantê-los vivos. Para isso precisamos parar de nos enganar, mudar nossas atitudes, transformar todo este estado de coisas e construir uma sociedade baseada na generosidade e no amor.

Claiton Manfro
Janeiro/2013 

Um comentário:

  1. Claiton,

    conforme meus apontamentos no "Cavalgando o Vento" (em 07/02), compartilho com o camarada dos mesmos sentimentos.

    A tragédia teve proporções inéditas, mas a resposta de muitos foi a mesma de sempre: sensacionalismo e sentimentalismo de um lado; moralismo esbravejado com as calças esquecidas no armário, por outro lado.

    E vindo ao encontro destes nossos lamentos humanistas lembro do menino boliviano, morto no último jogo do Corinthians, contra o San José, na Bolívia, pelo "Bando de Loucos"...

    A mesma imprensa que incensa a torcida do Coringão agora a demoniza.

    Fraterno abraço!

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