Putz, agora foi a Pina! Onde vamos parar assim? Nossas referências, estão evaporando.
Certa vez, Pina falou: “Não me interesso em como as pessoas se movem, mas o que as movem”.
Com essa frase, Pina abriu muitas possibilidades teóricas sobre a dança e o teatro e questionou, de forma profunda, o formalismo, a linearidade gestual e estética/temática que se encontrava tanto a dança, quanto o teatro nas décadas de 1970 em diante. Criticou, desafiou e transgrediu o velho ballet clássico e impôs, sem impor nada, uma nova reflexão sobre o desgastado mundo das artes cênicas.
Pina representou, mais do que um novo pensar no mundo das artes. Com sua pesquisa-trabalho, contribuiu significativamente, para o surgimento de uma nova geração que pode realizar suas produções de forma mais consistente.
É difícil pensar num mundo sem esta extraordinária coreógrafa. Ficamos todos mais pobres sem a Pina, pobres de alma.
Assisti apenas ao espetáculo “Para as crianças de ontem, hoje e sempre” ao vivo, mas em vídeo, apreciei todos. Foram anos de estudos, analisando vídeos, lendo seus artigos e acompanhando sessões de trabalho de seus bailarinos.
Não gostei de muitas coisas, inclusive do espetáculo que assisti ao vivo e fiz uma crítica neste sentido, porém sempre reconheci a importância do conjunto de sua obra para todos os artistas que “se prezam” neste mundo.
Esse trabalho que realizei foi imprescindível para minha formação, não como diretor e ator, mas como ser humano. Devo agradecer ao Tanztheater Wuppertal, grupo que Pina dirigiu até o final de sua vida, por ter me ajudado a encontrar, senão respostas, grandes e profundas perguntas.
Foi a partir da análise do seu trabalho que pude perceber que estávamos caminhando para um caminho longo e triste, tanto na área do teatro, quando na dança. Mas, foi também neste mesmo processo, que entendi que não podíamos nos entregar a este formalismo padrão que tomou conta de nossas artes e artistas, ditado pelo mercado de consumo e a indústria cultural.
Ela nos ensinou a procurar questionamentos, nos desafiar enquanto gente e a construir novas possibilidades de vida e de arte.
Viva Pina Bausch!!!
Claiton Manfro
[1] Pina Bausch: principal coreógrafa alemã, desenvolveu o estilo-sistema-método de teatro/dança, diretora do Tanztheater Wuppertal, na Alemanha. Entre seus espetáculos estão: “Café Müller” (1978), “A Sagração de Primavera” (1975) e, o recente, “Para as crianças de ontem, hoje e sempre”.
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