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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Leia com olhos fechados IV

Tapera


Era um caminho estreito e longo, o mato cobria boa parte do trajeto e, no lado direito da porteira, dava pra ver os sabiás, as gaturamas e as saíras se deliciando com os frutos do velho pomar. Tinha de tudo: laranjeira, bergamoteira, limoeira, pereira,... Todos enfeitados por uma baita teia de barba de pau.
Já, dentro do terreno, costeando o pomar, uma cerca de tábua coberta de limo, esverdeava ainda mais o verde do cenário. Por um longo tempo fiquei ali, imóvel, observando cada detalhe deste ambiente rústico e melancólico.
Bah! Nem tinha entrado na casa e já tava com a cabeça fervendo.
Será que é certo visitar taperas?
Será que elas querem ser visitadas?
Quando visitamos estes lugares, não estamos nos visitando também?
Escorei a mateira num cupinzeiro, puxei o chimarrão, enchi a cuia bem devagar, garrei um pouco de coragem e comecei a caminhar em direção a velha casa.
Não caminhava sozinho! Os antigos moradores do lugar me acompanhavam no percurso, só não sabia se eles queriam me mostrar tudo, ou se queriam que eu não os incomodasse, um arrepio, que se estendeu de ponta a ponta da espinha, me botou mais dúvida, mesmo assim resolvi continuar.
A Casa era pequena e tinha, junto à fachada, uma pequena área, o piso queimado-avermelhado, com um desenho de ladrilhos em bordô, mostrava um trilho de gastura bem no meio e denunciava que o local não era usado para confraternização familiar.
Abri lentamente a porta de madeira e entrei na sala, era um espaço pequeno, escuro, com um assoalho de tabua e que, pra minha surpresa, ainda guardava coisas dos antigos proprietários, tinha um sofá e uma mesa pequena, duas cadeiras e, o que mais me chamou a atenção, dois quadros com grossas molduras e pinturas de rostos – aqueles que imitam fotos. Os casais das fotografias-pinturas eram bonitos, bem vestidos e formais, eram de uma época em que as pessoas se respeitavam e se alimentavam bem, provavelmente os donos do lugar. Mais uma vez senti um calafrio na espinha, só que agora ele veio acompanhado de um forte sentimento de culpa. Afinal, o que eu queria ali? Por que interferir na vida da tapera? Me senti uma coisa exótica em um ambiente nativo – um pé de eucalipto, que tava ali pra estragar tudo.
Olhei mais uma vez para as pessoas das fotografias, agradeci a gentileza com que me acolheram, pedi desculpa por atrapalhar, dei meio volta e fui em direção a velha rotina.
Naquele dia compreendi que as taperas são lugares vivos, porque a vida nada mais é, do que um povoamento de lembranças, daquilo que vivemos e inventamos.

Claiton Manfro

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