Peguei este título emprestado de um espetáculo do Lume – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp (na minha avaliação um dos dez melhores grupos de pesquisa sobre o trabalho de ator do mundo). O Lume esteve em Cachoeirinha em 2002, realizando apresentações e oficinas.
Ainda não assisti à peça, mas o título faz a gente refletir sobre coisas que estão em nossa volta – fazem parte de nossa vida, mas não nos damos conta, nunca questionamos se realmente elas existem ou se são somente frutos de nossa imaginação. Em geral são coisas que convencionamos, criamos ficticiamente e que nos ajudam a viver em grupo e sermos quem somos (bons ou não).
A matemática, por exemplo, é uma “ciência” que parte de convenções. Alguém e neste caso me desculpem (realmente não sei quem foi), definiu que o número um devia se chamar um e foi além, definiu ainda que um mais (+) um devia ser igual a dois. Isso nos parece uma coisa lógica, afinal todos aprendemos assim. Mas, e se fosse diferente? Se ao invés desta convenção este “camarada inventor”, nos dissesse que o primeiro número é o cinco e que o segundo é o três, por exemplo, e que a soma de ambos é igual a nove? Aprenderíamos assim e passaríamos a acreditar que esta doideira é certa, assimilaríamos isso como uma verdade coletiva – universal e pronto, deixaria de ser doideira e passaria pro campo das coisas reais, certas e inquestionáveis.
Outra coisa engraçada é o tal calendário, que, aliás, parte de outra convenção, a astronomia. Foi criada uma regra onde foi afirmado que a partir de tal data as datas passariam a existir e os dias seriam chamados de dias e que todos teriam nomes, como segunda-feira, terça-feira...
Isso nos leva a outra intrigante convenção: a linguagem e o nome das coisas. Até acho que não existe nenhum nome melhor pra tomate que tomate, nunca vi algo que tenha mais cara de ovo que ovo. Mas, e se fossem escolhidos outros nomes? Acharíamos tudo normal, é só uma questão de aprendizagem. O ruim disso é que quando eu cheguei à coisa já estava feita, senão eu ia sugerir algumas mudanças. Vocês não acham que “ovolete” combina mais que omelete, afinal o troço não é feito de ovo? Sem falar das palavras bonitas como: pseudônimo, diafragma, caleidoscópio...
Também tem o dinheiro. De onde tiraram que um pedaço de papel colorido tem algum valor? Quem fez isso só podia estar de sacanagem. Trocamos a troca entre coisas reais por: coisas reais versus coisa fictícia (dinheiro). E o pior é que essa coisa pegou, aliás, pegou tanto que os endinheirados mandam nos “desendinheirados”.
E então, estas coisas existem mesmo? Se creditarmos nelas, elas se transformam em coisas reais, certo?
Putz! Mas então é tudo subjetivo?
Podemos incluir nesta história a fé, o amor, o carinho... Coisas ainda mais complicadas, pois, por mais que sejam criados ritos e códigos para enquadrá-los eles sempre terão um enorme nível de liberdade.
Dica
Assistam ao filme “Doze homens e uma sentença”. São doze jurados reunidos em uma sala para analisar a situação de um réu – uma pessoa que aparentemente é culpada de cometer um crime. O filme é interessante porque nos leva a questionar sobre o que de fato é um fato, o que é verdade e o que se acredita ser verdade.
Claiton Manfro
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