Leia com os olhos
fechados
O
vento era suave e constante, as folhas do cinamomo caíam lentamente, a fumaça
que saia da água do chimarrão embaçava a visão da várzea, mal dava pra enxergar
o açude e o gado que descansava do pastar.
Perto
do poço, na frente do galpão, um cachorro dormia sossegado e as galinhas, na
eterna rotina de procurar minhocas, cacarejavam displicentemente. Era hora da
cesta, todos e quase tudo dormia, mas eu, acordado, registrava tudo com um
olhar bucólico e saudoso.
Nem
os anus, que pousavam nas bananeiras, faziam barulho.
Tirei
as alpargatas e resolvi caminhar pelo cenário, fiz a volta na casa, passei pelo
galinheiro, o chiqueiro e parei ao lado do cata-vento, no lugar mais alto do
pátio. Sentei em um velho tronco de figueira, o cheiro que vinha do campo me
distraia tanto, que nem sentia mais as rosetas nos pés. Fiquei ali por um longo tempo, observando as formigas, as cigarras e as pequenas preás que atravessavam o
terreno apressadamente.
Mais
tarde, depois de disputar as minhocas com as galinhas e organizar a pescaria,
fui para mesa do café. O pão fresquinho e a chimia de abóbora, acompanhados do
café com leite, dava sustância para longa noite na beira do açude.
Não
precisava pegar peixe, queria mesmo era pescar estrelas e silêncios.
Sentando naquela taipa ouvindo o ronco dos sapos, o zunido dos mosquitos e o ruminar das vacas, também ruminei pensamentos.
Sentando naquela taipa ouvindo o ronco dos sapos, o zunido dos mosquitos e o ruminar das vacas, também ruminei pensamentos.
Pensei
que a lua é a irmã mais velha dos pesqueiros e pescadores / que os lambaris não
crescem para dar ar de criancice às águas doces / que todas as águas são doces,
até as do mar / que o pão de casa e a chimia feita por mãos maternas, ganha
grau de importância quando degustadas perto das mães / que no fundo os picumãs
são farelos que os anjos deixam espalhados na cozinha / que o esterco do gado guarda
mesmo o perfume das reminiscências – das lembranças imortais e que a vida, não
passam dum pescar.
Dica
Vá
pescar e me convide.
Claiton
Manfro
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